terça-feira, 20 de maio de 2008

Capitulo VII - Hemorragias


O sangue desempenha um papel muito importante no organismo.
Entre outros, ele conduz, através das artérias, os alimentos nutritivos e o oxigénio indispensável à vida das células, do cérebro, do coração, do fígado, dos músculos da pele e dos outros órgãos. Através das veias, leva também aos órgãos excretores, como os pulmões e os rins, os resíduos produzidos pela nutrição das células. O sangue mantém igualmente o corpo a uma temperatura constante, distribuindo o calor produzido pelo organismo.

Uma perda rápida ou prolongada do volume sanguíneo perturba as funções vitais, cujo equilíbrio e integridade são assegurados põe uma circulação constante. Essa perturbação funcional provoca graves repercussões, como por exemplo, uma deficiência importante de oxigénio a nível do cérebro, do músculo cardíaco ou dos pulmões, o que provoca um estado de choque e muitas vezes a paragem cardiorrespiratória num espaço de tempo mais ou menos longo.

A hemorragia é um escoamento importante de sangue num tempo relativamente curto. Devemos distinguir a hemorragia de efusão sanguínea (provocada por um golpe), a qual consiste num escoamento de sangue que não modifique gravemente a circulação e não é um ferimento prioritário. A simples efusão sanguínea pára espontaneamente, após 5 ou 8 minutos e com a ajuda natural dos mecanismos de coagulação.



Tipos de Hemorragias:


  • Hemorragias Externas;

  • Hemorragia Interna;

Hemorragias Externas


Diz-se que a hemorragia é externa quando o sangue corre para o exterior do corpo através de uma ferida. A hemorragia pode ser arterial, venosa ou mista.

Hemorragia Interna


Habitualmente, a hemorragia interna não é visível. O sangue espalha – se pelos tecidos contíguos no interior do corpo. O sangue que se acumula no interior do organismo provoca graves complicações quando comprime um órgão vital (cérebro, pulmão). O sangue pode igualmente acumular-se nas cavidades do organismo e permanecer ai sem apresentar manifestações peculiares. Uma hemorragia interna constitui um estado grave, frequentemente difícil de avaliar. O socorrista deve estar atento quando se trata de ferimentos causados por um choque violento.
Algumas feridas profundas não podem sangrar imediatamente. Os vasos estão seccionados, mas as extremidades do corte estão esmagados. Sob o efeito de pressão sanguínea, esses vasos vão abrir-se um pouco mais tarde e será então que se produz a hemorragia. Acontece o mesmo quando um membro está esmagado mas não cortado.

Causas da Hemorragia

As causas da Hemorragia Externa:


A hemorragia externa é mais frequentemente causada por acidentes de trabalho, acidentes de estrada ou ferimento provocados por objectos cortantes.

As causas da Hemorragia Interna:


Uma hemorragia interna pode surgir nos seguintes casos:



  • As fracturas fechadas (fragmentos de osso podem perfurar um vaso sanguíneo, provocando uma hemorragia que se faz acompanhar muitas vezes de um inchaço acentuado);

  • Os acidentes de estrada, de caça, de trabalho ou de desporto;

  • Uma pancada violenta directa ou indirecta no tórax, no peito, nas costas ou no abdómen por ocasião de um acidente de estrada;

  • As feridas com perfurações profundas, provocadas especialmente por objectos pontiagudos e cortantes;

  • As feridas causadas por balas de arma de fogo;

  • Os ferimentos por esmagamento ou por compressão, por exemplo, na sequência de um desabamento de terras;

Os Sinais e os Sintomas de uma Hemorragia:


A maior parte dos sinais e dos sintomas da hemorragia são os mesmos, pouco importa que seja externa, interna ou exteriorizada. Eles variam, todavia, conforme o volume de sangue perdido e a velocidade de escoamento. Eis os sinais e os sintomas habituais de hemorragia:



  • A pele fica pálida ou azulada, fria e húmida. O sangue já não pode circular eficazmente em todo o corpo. Produz-se uma constrição dos vasos sanguíneos que irrigam a pele para encaminhar o sangue para os órgãos vitais. A vítima sente uma fraqueza, tonturas, perturbações da visão devidas a uma a uma diminuição do débito sanguíneo no cérebro. Pode surgir uma perda de conhecimento progressiva.

  • A vítima experimente ansiedade, pânico, agressividade, agitando-se e falando sem parar. Fica nauseada e ode vomitar.

  • A sua respiração é superficial, rápida e difícil, impelindo dessa forma a vitima a bocejar, a suspirar e a procurar respirar fundo, pois, produz-se uma deficiência de oxigénio nos órgãos vitais.

  • A pulsação percebe-se com dificuldade. É rápida e fraca. As artérias contraem-se para compensar a falta de volume de sangue e o coração bombeia mais rapidamente de forma a fazer circular o sangue de maneira mais eficaz.

  • A vítima experimenta uma viva sensação de sede devido a uma reacção natural do corpo, que procura compensar uma perda de líquido.

  • Nos casos de hemorragia interna, a vítima sente uma forte dor no sítio do impacto. A sua pele fica azulada e pode dar-se um endurecimento dos tecidos moles, como por exemplo os do abdómen. Os outros sinais e sintomas podem manifestar-se mais tarde em relação à hora do acidente ou do traumatismo.

  • Nos casos de hemorragia exteriorizada, o sangue escorre por um orifício natural: boca, nariz, ouvido, uréter, vagina, ânus, sendo muitas vezes a consequência de uma hemorragia interna.

  • Mesmo uma efusão sanguínea ligeira, repartida por um longo período continuo, pode manifestar-se através desses sinais e sintomas.

Os primeiros socorros em caso de Hemorragia Externa


Nos casos de hemorragia externa, chame os Serviços de Urgência e tente parar imediatamente o escoamento de sangue. É, todavia, importante tomar medidas de protecção para reduzir os riscos de transmissão de doenças pelo sangue. É necessária uma espécie de barreira entre si próprio e a vítima quando se administram os primeiros socorros.
O uso de luvas em látex, inutilizáveis após a sua utilização, é muito recomendado quando há presença de sangue ou quando se tem de praticar manipulações directas à volta de uma ferida.
Se não arranjar luvas, utilize a mão d vítima para exercer uma pressão local, ou ainda uma película de plástico ou um pano branco limpo dobrado várias vezes.
Deve lavar as mãos com sabão imediatamente depois de administrar os primeiros socorros.
Evite tocar na sua boca, o nariz, os olhos ao administrar os primeiros socorros ou antes de ter lavado as mãos.

1.Efectue uma compressão local


Com uma compressa esterilizada ou com um pano branco limpo, efectue uma compressão directa, firme sobre a ferida, a fim de impedir o escoamento sanguíneo e favorecer a formação do coágulo. Mantenha a compressão directa durante, pelo menos, 10 minutos sobre a ferida, a fim de evitar o retomar da hemorragia. Se o sangue atravessar o penso de origem, não o tira mas junte-lhe uma outra compressa, um pano branco limpo, por cima do primeiro e continue a exercer uma compressão até que a hemorragia pare

2. Levante o membro ferido desde o início da compressão


Se não suspeitarmos da presença de uma fractura, podemos levantar o membro acima do nível do coração para diminuir nele a circulação, abrandar a hemorragia e facilitar a coagulação.

3. Ponha a vítima imediatamente em repouso


Estenda a vítima em posição alongada, com a cabeça completamente o chão, as pernas elevadas, a fim de aumentar a pressão sanguínea e prevenir o estado de choque.


Se a hemorragia for arterial e a compressão local for ineficaz, proceda imediatamente a uma compressão à distância ao mesmo tempo que a compressão local (que explicaremos a seguir). Esta compressão à distância vai diminuir a velocidade do fluxo sanguíneo na região da ferida e ajudará a dominar a hemorragia.

4. Ponha um penso compressivo


Depois de ter exercido uma compressão local durante, pelo menos 10minutos, põe-se um penso compressivo. O penso deve estar suficientemente apertado para continuar a bloquear a hemorragia. Todavia, o penso compressivo nunca deve para completamente a circulação do membro ferido. Deve poder notar nele os sinais seguintes de uma boa circulação: calor da pele, coloração da extremidade, ausência de inchaço e presença de pulsação na extremidade do membro.
Pode também fazer-se o penso com uma ligadura elástica, uma ligadura triangular, um lenço ou uma gravata.
Pode suspeitar-se de uma hemorragia retardada especialmente nos casos de escoriação de pele. O aperto dos vasos sanguíneos abranda então ou retarda e hemorragia. O esmo acontece quando a pele é perfurada por um objecto pontiagudo: ela tem, então a tendência para se voltar a fechar. Faça imediatamente um penso compressivo, mesmo que a ferida não sangre. Exerce-se por isso uma compressão local sobre o penso.
Não devemos aplicar algodão sobre uma ferida pois, algumas fibras podem colar-se a ferida e causas infecção.

5. Imobilize o membro ferido


Se os ferimentos o permitirem, imobiliza-se a perna erguendo-a e o braço, mantendo-o numa ligadura de suspensão.
Se o penso estiver embebido de sangue, não o tire, mas junte-lhe um outro sobre o primeiro. Se o tirarmos corre-se o risco de ferir ao mesmo tempo o coágulo que se formou e a hemorragia recomeçará.
Vigie os sinais do estado de choque e tape a vítima para que ela mantenha o seu calor corporal. Tranquilize a vítima.


As hemorragias nasais


A hemorragia nasal pode surgir espontaneamente depois de nos termos assoado, na sequência de um choque directo, ou ainda, após um traumatismo indirecto, coo por exemplo, uma fractura do crânio. Este último caso é grave.

Para parar as hemorragias nasais:



  • Tranquilize a pessoa para que ela fique calma, a fim de evitar um aumento da pressão arterial e um agravamento da hemorragia nasal.

  • Mande sentar a pessoa com a cabeça ligeiramente inclinada para a frente, a fim de evitar que o sangue se acumule na parte de trás da garganta.

  • Aconselhe-a apertar o nariz, justamente abaixo da parte ossuda, ou a apoiar fortemente, com o dedo, o lado da narina atingida ou com o polegar e o indicador cada lado do nariz, durante cerca de 10 minutos.

  • Desaperte-lhe as roupas no pescoço e no peito se a estiverem a incomodar.

Depois da paragem da hemorragia nasal, deve-se recomendar a vítima que respirar pela boca e que evite assoar-se durante as primeiras duas horas, a fim de evitar que o coágulo se desfaça. Se, depois dos primeiros cuidados, a hemorragia nasal persistir ou reaparecer consulte os serviços médicos. Se a hemorragia nasal for devida a uma fractura no crânio, não faça nenhuma pressão local para a parar, porque isso correria o risco de fazer crescer a pressão exercida sobre o cérebro.


Técnica do Garrote


Em que situações utilizar um garrote?


Excepcionalmente podemos aplicar um garrote ou um torniquete. Um garrote pode ser utilizado nos seguintes casos:



  • Numa situação em que tem de se efectuar prioritariamente uma reanimação ou outras manobras indispensáveis.

  • Quando a compressão directa e a distância (referidas anteriormente) é insuficiente e a hemorragia persiste: nesse caso o garrote pode-se revelar como único meio para salvar uma vida.

  • É importante não empregar o garrote ou o torniquete sistematicamente para parar uma hemorragia. O garrote é na verdade um meio de último recurso, não é recomendado pois causa, por vezes, mais danos que o próprio ferimento. O garrote esmaga uma quantidade considerável de tecidos e, por vezes, causa danos permanentes nos nervos e nos vasos sanguíneos. Se for deixado durante um período demasiado longo, pode trazer consigo a perda de um membro, pois não há corrente sanguínea nesse local.

  • É, por isso, um método a empregar apenas em casos extremos para salvar a vida de alguém.

Qual é o objectivo do garrote?


O garrote tem por objectivo exercer uma compressão circulatória o mais perto possível do ponto de ruptura da artéria seccionada.

Como se realiza a técnica do garrote?


Com uma ligadura (manga de camisa, gravata, lenço ou ligadura triangular), com uma largura de 5cm e com 6 camadas de espessura, envolva duas vezes o membro, o mais perto possível da ferida.



  1. Fazendo um meio nó.

  2. Ponha um torniquete, se não o tiver disponível utilize um pauzinho sobre o meio nó e faça outro meio nó por cima.

  3. Utilize o pauzinho como cabo para poder apertar a ligadura e vá girando até que a hemorragia abrande.

  4. Fixe o pauzinho, ligando-o com outra ligadura e eleve o membro afectado.

Os primeiros socorros em caso de Hemorragia Interna


Quando se suspeitar da existência de uma hemorragia interna, chame os serviços de urgência imediatamente.
O socorrista não pode fazer nada para dominar este tipo de hemorragia, pois, o tratamento depende do lugar onde ocorreu e a causa que levou a que isto acontecesse. Apenas uma intervenção cirúrgica ou médica pode ser eficaz. É por essa razão que se deve manter a vítima em jejum e não lhe dar nada pela boca, mesmo que ela tenha sede, mas caso aconteça humedeça-lhe apenas os lábios. Além disso ela poderia sufocar com os vómitos caso ficasse inconsciente.
Se a vítima estiver consciente, deve repousar a cabeça sobre o solo.
Conserve-lhe as vias respiratórias abertas e ajude a afastar os curiosos para facilitar as entradas de ar no lugar. Peça a vítima para não se mexer, a fim de não agravar o escoamento de sangue e para não retardar a formação do coágulo. Acalme-a, explicando-lhe que é muito importante repousar o mais possível.
Mantenha a vítima quente, tapando-a a fim de que ela mantenha o seu calor. Uma hemorragia traz consigo automaticamente uma baixa de temperatura corporal e uma das funções do sangue é o assegurar a constância da temperatura interna do corpo.
Para manter a vítima quente, cubra-a com um cobertor, se isso não for possível coloque um casaco ou algo quente para esta não sentir tanto frio.

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